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A semaglutida, um agonista do receptor do peptídeo semelhante ao glucagon-1 (GLP-1), tem se consolidado como uma das principais terapias para o controle do diabetes tipo 2 e da obesidade, promovendo melhora no controle glicêmico e perda de peso significativa. No entanto, relatos recentes sugerem que seu uso pode estar associado a efeitos adversos dermatológicos, incluindo alopecia, uma condição que pode impactar substancialmente a qualidade de vida e a adesão ao tratamento.

Embora a relação entre agonistas do GLP-1 e queda capilar ainda não esteja totalmente elucidada, estudos emergentes apontam para uma associação potencialmente relevante. Este artigo revisa as evidências disponíveis, discute os mecanismos fisiológicos envolvidos e destaca a necessidade de investigações clínicas mais aprofundadas para esclarecer o impacto da semaglutida na saúde capilar.


Evidências Clínicas e Associação com Alopecia

A preocupação com a alopecia associada ao uso de semaglutida tem ganhado atenção à medida que novas pesquisas investigam seus efeitos adversos dermatológicos. Burke et al. conduziram um estudo de coorte retrospectivo que identificou um aumento significativo na incidência de queda capilar em pacientes tratados com agonistas do GLP-1, incluindo a semaglutida. Os autores destacaram que, embora a relação causal não tenha sido estabelecida, os achados reforçam a necessidade de estudos prospectivos controlados para quantificar esse risco com maior precisão.

Complementando essas observações, Tran et al. realizaram uma revisão sistemática da literatura, documentando diversos efeitos dermatológicos associados ao uso de semaglutida, com relatos frequentes de alopecia. A revisão enfatizou que a perda de cabelo pode ser um efeito adverso subnotificado e que os profissionais de saúde devem estar atentos a essa possível complicação, especialmente em pacientes que apresentam predisposição genética para alopecia ou outras condições capilares.

Além disso, um estudo de Godfrey et al., baseado em análise de desproporcionalidade de eventos adversos relatados ao FDA Adverse Event Reporting System (FAERS), indicou um aumento no número de notificações de alopecia entre usuários de semaglutida e outro agonista do GLP-1, a tirzepatida. Embora esse tipo de análise não possa estabelecer causalidade definitiva, a consistência dos relatos reforça a plausibilidade biológica de uma conexão entre o uso de GLP-1 e a perda capilar.

Mecanismos Potenciais da Alopecia Induzida pela Semaglutida

Embora os mecanismos exatos pelos quais a semaglutida possa induzir alopecia ainda não sejam completamente compreendidos, algumas hipóteses foram propostas com base em sua farmacodinâmica e nos efeitos metabólicos que promove:

  1. Eflúvio Telógeno Secundário à Perda de Peso Rápida

    • A semaglutida é altamente eficaz na indução de perda de peso, o que pode levar a deficiências nutricionais que impactam diretamente o crescimento capilar.
    • A privação de micronutrientes essenciais, como ferro, zinco, vitamina D e biotina, é um fator bem documentado no desencadeamento do eflúvio telógeno, uma condição caracterizada pela interrupção prematura da fase de crescimento dos fios e aumento da queda capilar.
  2. Alterações Endócrinas e Regulação do Ciclo Capilar

    • O GLP-1 influencia múltiplas vias metabólicas e hormonais, incluindo o eixo tireoidiano, que desempenha um papel crítico na homeostase do folículo piloso.
    • Flutuações na atividade da tireoide, mesmo que sutis, podem alterar o crescimento capilar e levar a disfunções no ciclo do folículo piloso.
  3. Inflamação Sistêmica e Estresse Oxidativo

    • Apesar dos benefícios anti-inflamatórios da semaglutida, o impacto da modulação do metabolismo sobre os níveis de citocinas pró-inflamatórias e a resposta imunológica local no couro cabeludo ainda não foi completamente elucidado.
    • Certas condições inflamatórias podem contribuir para formas de alopecia autoimune ou agravar quadros preexistentes, como a alopecia androgenética.

Impactos Psicossociais e Adesão ao Tratamento

Além dos aspectos fisiológicos, a alopecia associada ao uso de semaglutida pode ter repercussões psicológicas significativas. A queda capilar é frequentemente associada a redução da autoestima, ansiedade e depressão, podendo afetar a motivação dos pacientes para continuar o tratamento.

Estudos mostram que efeitos adversos visíveis impactam diretamente a adesão ao tratamento em terapias crônicas. Dessa forma, reconhecer e abordar precocemente a perda capilar pode prevenir a interrupção da medicação e garantir melhores resultados metabólicos e cardiovasculares.

Considerações Clínicas e Abordagem Multidisciplinar

Dado o crescente número de relatos sugerindo uma associação entre semaglutida e alopecia, algumas recomendações podem ser adotadas na prática clínica:

  1. Monitoramento precoce da saúde capilar – Perguntar ativamente sobre alterações capilares nos primeiros meses de tratamento pode ajudar na identificação precoce do problema.
  2. Avaliação nutricional – Pacientes em uso de semaglutida devem ser acompanhados quanto a deficiências de ferro, zinco, biotina e vitamina D, com reposição quando necessário.
  3. Acompanhamento dermatológico – Para casos persistentes, encaminhar o paciente a um especialista pode ser fundamental para diferenciar eflúvio telógeno de outras causas de alopecia.
  4. Educação do paciente – Explicar que a perda capilar pode ser transitória e está relacionada a ajustes metabólicos pode evitar ansiedade desnecessária e melhorar a continuidade do tratamento.

Os dados atuais sugerem uma potencial associação entre o uso de semaglutida e alopecia, mas evidências definitivas ainda são necessárias. Embora estudos observacionais tenham identificado um aumento da incidência de queda capilar entre usuários do medicamento, ensaios clínicos randomizados controlados são essenciais para confirmar essa relação e quantificar sua relevância clínica.

Dado o impacto que a alopecia pode ter na qualidade de vida dos pacientes, é fundamental que profissionais de saúde estejam cientes dessa possível associação e adotem uma abordagem proativa para prevenir e manejar a perda capilar associada ao uso de semaglutida.

📢 Fique atento às futuras publicações científicas e diretrizes sobre este tema. A compreensão aprofundada dessa relação pode contribuir para um manejo mais seguro e individualizado do tratamento com agonistas do GLP-1. Compartilhe com quem precisa saber disso!