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A obesidade é uma condição de saúde pública global que afeta milhões de pessoas, e mulheres de meia-idade estão entre as mais impactadas. Nessa fase da vida, mudanças metabólicas associadas ao envelhecimento, flutuações hormonais e níveis reduzidos de atividade física tornam esse grupo especialmente vulnerável a complicações como resistência à insulina, dislipidemias e doenças cardiovasculares.

Em um estudo inovador conduzido por pesquisadores da University of Taipei e da Tzu Chi University, publicado no Journal of the International Society of Sports Nutrition, foi investigado o impacto de combinar o treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT) com suplementação probiótica usando Lactiplantibacillus plantarum . Essa pesquisa representa um marco na integração de abordagens nutricionais e de exercício físico para promover saúde metabólica e cardiorrespiratória.

 

O Contexto da Obesidade e o Papel do HIIT e dos Probióticos

Mulheres de meia-idade enfrentam desafios específicos devido ao declínio nos níveis de estrogênio e progesterona, que afetam diretamente o metabolismo de gorduras e carboidratos. Além disso, a obesidade aumenta os níveis de inflamação sistêmica, exacerba a resistência à insulina e diminui a capacidade cardiorrespiratória.

O HIIT, caracterizado por períodos curtos de exercício intenso intercalados com recuperação ativa, tem mostrado benefícios significativos na queima de gordura, melhora da capacidade aeróbica e adesão a programas de exercícios. No entanto, o exercício intenso pode aumentar temporariamente os marcadores inflamatórios, o que pode ser um obstáculo para populações suscetíveis.

Por outro lado, os probióticos, especialmente o Lactiplantibacillus plantarum, têm demonstrado potencial em modular a microbiota intestinal, melhorar a digestão e promover a integridade da barreira intestinal. Além disso, esses microrganismos influenciam positivamente a resposta imune e o metabolismo energético, tornando-os aliados promissores no contexto do exercício físico.

 

Metodologia do Estudo

Este ensaio clínico randomizado, duplo-cego e controlado por placebo incluiu 47 mulheres obesas de meia-idade, com idades entre 35 e 55 anos. As participantes foram divididas em quatro grupos:

  1. Grupo Controle (C): Placebo sem intervenções adicionais.
  2. Grupo Probiótico (P): Suplementação diária de Lactiplantibacillus plantarum.
  3. Grupo HIIT (H): Treinamento intervalado de alta intensidade três vezes por semana.
  4. Grupo HIIT + Probióticos (HP): Combinação de treinamento HIIT e suplementação probiótica.

 

O protocolo de HIIT consistiu em oito sessões de exercícios, realizadas ao longo de oito semanas. Cada sessão incluiu cinco ciclos de um minuto de exercício em intensidade máxima, seguidos por dois minutos de recuperação ativa. As participantes do grupo probiótico receberam uma dose diária de L. plantarum, enquanto o grupo controle recebeu cápsulas de placebo idênticas.

Medições foram realizadas no início e ao final do estudo, abrangendo indicadores antropométricos (peso, circunferência do quadril e cintura), aptidão cardiorrespiratória (VO2max e tempo até a exaustão – TTE) e parâmetros metabólicos (glicemia e perfil lipídico).

 

Resultados Principais

Redução da Circunferência do Quadril e Melhora na Composição Corporal

O grupo HIIT + Probióticos (HP) apresentou a maior redução na circunferência do quadril em comparação aos outros grupos. Essa redução está associada a um melhor metabolismo de gorduras mediado pela interação sinérgica entre o exercício físico e os probióticos.

A suplementação com L. plantarum contribuiu para a modulação da microbiota intestinal, promovendo o crescimento de bactérias benéficas e melhorando a sensibilidade à insulina. Essas mudanças metabólicas favoreceram a redução da adiposidade visceral, que está intimamente relacionada à circunferência do quadril.

 

Tempo Até a Exaustão (TTE)

O TTE aumentou significativamente em todos os grupos que realizaram HIIT, com o grupo combinado (HP) mostrando os maiores ganhos. A suplementação probiótica potencializou os efeitos do HIIT, retardando a fadiga muscular por meio da modulação do metabolismo energético e redução do estresse oxidativo.

 

Estabilização da Glicemia

O grupo HIIT isolado apresentou um aumento discreto na glicemia de jejum, possivelmente devido à resposta inflamatória induzida pelo exercício intenso. No entanto, o grupo combinado (HP) manteve os níveis glicêmicos estáveis, destacando o papel dos probióticos na preservação da integridade da barreira intestinal e na atenuação de respostas inflamatórias.

 

Outros Marcadores Metabólicos

Embora o perfil lipídico (colesterol total, LDL e triglicerídeos) não tenha mostrado mudanças significativas, o HDL-C aumentou discretamente no grupo controle, possivelmente devido a fatores externos como dieta e estilo de vida.

 

Discussão: Por Que o HIIT e os Probióticos Funcionam Melhor Juntos?

Os resultados reforçam que a combinação de HIIT e suplementação probiótica oferece benefícios sinérgicos que vão além do que cada intervenção isolada pode proporcionar.

  • Melhor Modulação Metabólica: O HIIT aumenta o metabolismo basal e a queima de gordura, enquanto os probióticos otimizam a absorção de nutrientes e reduzem a inflamação sistêmica.
  • Maior Capacidade Aeróbica: Aumento do TTE e VO2max em participantes que realizaram HIIT com suplementação probiótica, destacando o impacto positivo no desempenho físico.
  • Estabilização da Resposta Inflamatória: Os probióticos atenuaram a resposta inflamatória ao exercício intenso, reduzindo os marcadores de inflamação e preservando a saúde metabólica.

 

Esses achados são particularmente relevantes para mulheres obesas de meia-idade, que frequentemente enfrentam barreiras para aderir a programas de exercícios prolongados devido a limitações físicas ou psicológicas.

 

Implicações Clínicas

Este estudo oferece evidências robustas para incorporar intervenções combinadas em programas de saúde pública e clínicas especializadas. A suplementação probiótica pode ser utilizada para melhorar a adesão e os resultados de programas de exercícios, especialmente em populações suscetíveis a complicações metabólicas.

Além disso, a combinação de HIIT e probióticos oferece uma alternativa acessível e eficaz para gerenciar a obesidade e melhorar a saúde metabólica e física.

 

Limitações do Estudo

Embora os resultados sejam promissores, o estudo apresentou algumas limitações:

  1. Duração Curta: O protocolo de oito semanas pode não ter sido suficiente para capturar mudanças significativas em marcadores metabólicos de longo prazo, como perfil lipídico e adiposidade visceral.
  2. Fatores Externos: O estudo não controlou rigorosamente a dieta das participantes, o que pode ter influenciado alguns resultados, como o aumento do HDL-C no grupo controle.
  3. Tamanho da Amostra: Com apenas 47 participantes, os resultados precisam ser replicados em estudos maiores e multicêntricos para confirmar a validade dos achados.

 

Conclusão

A integração de HIIT e suplementação probiótica com Lactiplantibacillus plantarum representa uma abordagem inovadora e eficaz para gerenciar a obesidade e melhorar a saúde metabólica e física de mulheres de meia-idade. Essa intervenção combina os benefícios comprovados do exercício físico intenso com o potencial modulador dos probióticos na microbiota intestinal, oferecendo resultados significativos em curto prazo.

 

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Mudança na Nomenclatura do Lactiplantibacillus plantarum: Entenda as Razões e o Impacto Científico

O mundo da microbiologia passou por uma mudança significativa com a reclassificação e atualização taxonômica de diversos microrganismos probióticos. Entre eles, o Lactiplantibacillus plantarum, anteriormente conhecido como Lactobacillus plantarum, foi renomeado, causando curiosidade entre profissionais de saúde e pesquisadores. Essa alteração, que reflete avanços no entendimento genético e funcional desses microrganismos, tem implicações importantes para a ciência, a regulamentação e a comunicação científica.

 

Por Que a Nomenclatura Foi Alterada?

A mudança está relacionada à evolução do conhecimento sobre a filogenia e a diversidade genética do gênero Lactobacillus. Estudos baseados em sequenciamento genético avançado revelaram que o gênero Lactobacillus era extremamente heterogêneo, abrangendo espécies com diferenças significativas em sua composição genética, metabolismo e habitat.

Para melhorar a clareza científica e permitir uma classificação mais precisa, o gênero foi dividido em 25 novos gêneros. Essa reclassificação foi liderada por um grupo de especialistas em microbiologia e publicada em 2020 no artigo seminal de Zheng et al., na revista International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology. O objetivo principal foi alinhar a nomenclatura com os critérios filogenéticos modernos, facilitando a compreensão das características específicas de cada microrganismo.

 

O Novo Nome: Lactiplantibacillus plantarum

Com a atualização, o Lactobacillus plantarum foi reclassificado no novo gênero Lactiplantibacillus, mantendo “plantarum” como o epíteto específico. Essa mudança reflete sua proximidade genética com outras espécies do novo gênero e diferenciações de espécies que permaneceram no gênero original Lactobacillus.

A nova nomenclatura segue a estrutura padrão de nomenclatura binomial da microbiologia, com:

    • Lactiplantibacillus representando o gênero;
    • plantarum indicando a espécie.

 

Impacto para Profissionais de Saúde e Pesquisa

  1. Precisão Científica: A reclassificação permite que os pesquisadores compreendam melhor as propriedades únicas de cada espécie probiótica. No caso do Lactiplantibacillus plantarum, essa mudança destaca suas características genéticas e funcionais, como a capacidade de sobreviver ao trato gastrointestinal humano e seu papel na modulação da microbiota intestinal.
  2. Comunicação Científica: Embora a nova nomenclatura seja mais precisa, pode causar confusão inicial entre profissionais e consumidores. É fundamental que os fabricantes de produtos probióticos e profissionais de saúde atualizem seus materiais para refletir a mudança, evitando desinformação.
  3. Regulamentação e Rotulagem: Organismos reguladores, como a EFSA (European Food Safety Authority) e a FDA (Food and Drug Administration), exigem a nomenclatura atualizada nos rótulos e documentos técnicos. Assim, é importante que produtos contendo L. plantarum sejam identificados corretamente como Lactiplantibacillus plantarum.
  4. Reconhecimento Comercial: Marcas e indústrias precisam comunicar a transição de forma clara ao consumidor, explicando que a eficácia e os benefícios clínicos permanecem inalterados, apesar da mudança no nome.

 

Benefícios do Lactiplantibacillus plantarum

Independentemente da mudança na nomenclatura, os benefícios clínicos de L. plantarum continuam sendo amplamente reconhecidos. Este probiótico é valorizado por:

    • Promover a integridade da barreira intestinal;
    • Modular o sistema imunológico;
    • Melhorar a digestão de carboidratos e fibras;
    • Reduzir a inflamação sistêmica.

 

Além disso, sua robustez e capacidade de sobreviver ao ambiente ácido do estômago tornam-no ideal para formulações probióticas orais.

 

Conclusão

A mudança de nomenclatura para Lactiplantibacillus plantarum reflete avanços científicos significativos, destacando a importância da precisão filogenética na microbiologia. Embora essa transição possa gerar dúvidas iniciais, ela contribui para um entendimento mais profundo das espécies probióticas, permitindo o desenvolvimento de intervenções mais eficazes e direcionadas.

Profissionais de saúde e empresas devem se esforçar para educar seus públicos sobre essa atualização, garantindo que a confiança no uso de probióticos e seus benefícios clínicos permaneça inabalada. Essa mudança é mais do que uma atualização taxonômica; é um passo em direção à ciência probiótica de precisão.