A doença renal diabética (DRD) é uma das complicações mais graves do diabetes tipo 2 (T2D), sendo uma das principais causas de doença renal crônica (DRC) e necessidade de terapia dialítica no mundo. A hiperfiltração glomerular, frequentemente observada em estágios iniciais da DRD, desempenha um papel central na progressão do dano renal, contribuindo para o aumento da pressão intraglomerular e lesão estrutural dos néfrons.
A classe dos inibidores do cotransportador de sódio-glicose tipo 2 (SGLT2), entre eles a dapagliflozina, tem se mostrado promissora na proteção renal, além de seus efeitos bem estabelecidos no controle glicêmico. Estudos recentes sugerem que esses agentes exercem impacto significativo na hemodinâmica renal, modulando a pressão glomerular e reduzindo a hiperfiltração, com potenciais benefícios na prevenção e progressão da DRC.
Este artigo analisa os achados de um ensaio clínico randomizado, publicado na Diabetes, Obesity and Metabolism, que investigou os efeitos da dapagliflozina na hemodinâmica renal de pacientes com diabetes tipo 2, particularmente naqueles com hiperfiltração glomerular.
O Papel da Hiperfiltração Glomerular na Doença Renal Diabética
A hiperfiltração glomerular ocorre quando há um aumento na taxa de filtração glomerular (TFG) além dos valores fisiológicos, geralmente superior a 125 mL/min/1.73 m². Esse fenômeno é comum em pacientes com diabetes, sendo mediado por fatores como:
✅ Ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA), promovendo vasodilatação da arteríola aferente.
✅ Aumento do transporte de glicose e sódio no túbulo proximal, reduzindo o feedback tubuloglomerular e perpetuando a hiperfiltração.
✅ Maior pressão intraglomerular, levando à lesão dos podócitos e progressão para albuminúria e declínio da função renal.
A modulação desse processo patológico é essencial para prevenir o agravamento da DRD, tornando-se um alvo terapêutico importante na abordagem nefroprotetora.
Metodologia do Estudo
O estudo analisado foi um ensaio clínico randomizado, aberto, com duração de 4 meses, envolvendo 60 pacientes com diabetes tipo 2 divididos em dois grupos:
- Grupo com Hiperfiltração (TFG > 125 mL/min/1.73 m²)
- Grupo com TFG Normal (90–124 mL/min/1.73 m²)
Os participantes receberam dapagliflozina como terapia de intervenção, enquanto o grupo controle foi tratado com metformina e/ou glipizida, ajustadas para manter controle glicêmico semelhante entre os grupos.
Os desfechos avaliados incluíram:
✅ Mudanças na TFG e fração de filtração (FF)
✅ Fluxo plasmático renal e resistência vascular renal (RVR)
✅ Pressão arterial média (MAP)
✅ Marcadores metabólicos como HbA1c, ácidos graxos livres e cetonas plasmáticas
Resultados do Estudo
Redução Significativa da Taxa de Filtração Glomerular (TFG)
📉 A dapagliflozina reduziu a TFG em 18% no grupo com hiperfiltração, demonstrando efeito modulador da pressão glomerular.
📉 No grupo com TFG normal, a redução foi de 7%, evidenciando um ajuste fisiológico sem comprometimento da função renal.
📉 No grupo controle, não houve mudanças significativas na TFG, indicando que o efeito nefroprotetor foi específico do inibidor de SGLT2.
Impacto na Fração de Filtração (FF) e Pressão Intraglomerular
📌 A FF diminuiu significativamente em ambos os grupos tratados com dapagliflozina, sugerindo menor pressão intraglomerular e proteção contra danos estruturais progressivos.
📌 No grupo controle, a FF permaneceu inalterada, reforçando a ação específica da dapagliflozina na regulação hemodinâmica.
Redução da Resistência Vascular Renal (RVR) e Pressão Arterial
🩸 A dapagliflozina reduziu a RVR em pacientes com hiperfiltração, indicando melhora na vasodilatação pós-glomerular.
🩸 Houve redução significativa na pressão arterial média (MAP), o que pode contribuir para a proteção cardiovascular e menor sobrecarga renal.
Benefícios Metabólicos Adicionais
⚖ A dapagliflozina promoveu perda de peso ao longo dos 4 meses de tratamento, um efeito benéfico para pacientes com T2D e obesidade associada.
⚖ Os níveis de cetonas plasmáticas aumentaram, refletindo uma maior utilização de ácidos graxos como fonte energética, sem riscos de cetoacidose.
Discussão e Implicações Clínicas
Os achados deste estudo reforçam a dapagliflozina como uma abordagem nefroprotetora eficaz, com potencial para retardar a progressão da DRD em pacientes com T2D.
Mecanismos de Proteção Renal da Dapagliflozina
✔ Redução da hiperfiltração glomerular: A dapagliflozina modula o equilíbrio hemodinâmico renal, promovendo vasodilatação pós-glomerular e reduzindo a pressão intraglomerular.
✔ Diminuição da pressão arterial: O efeito anti-hipertensivo observado pode contribuir para menor sobrecarga renal e cardiovascular.
✔ Efeito metabólico benéfico: A perda de peso e o aumento das cetonas refletem uma melhora no perfil metabólico dos pacientes.
Segurança e Considerações Clínicas
O perfil de segurança da dapagliflozina foi favorável, sem relatos de eventos adversos graves. Os efeitos colaterais mais comuns foram infecções micóticas genitais, já esperadas devido ao aumento da glicosúria induzida pelo inibidor de SGLT2.
Comparado a outras terapias hipoglicemiantes, como sulfonilureias, a dapagliflozina apresentou menor risco de hipoglicemia e efeitos secundários mais leves, tornando-se uma opção atrativa para pacientes com T2D e risco de progressão para DRC.
Conclusão e Perspectivas Futuras
Os resultados deste estudo consolidam a dapagliflozina como uma terapia eficaz na modulação da hemodinâmica renal em pacientes com T2D, especialmente naqueles com hiperfiltração glomerular.
Os principais benefícios observados incluem:
✅ Redução da TFG em pacientes com hiperfiltração, normalizando a função renal.
✅ Diminuição da resistência vascular renal, reduzindo a pressão intraglomerular e protegendo os néfrons.
✅ Redução da pressão arterial, contribuindo para menor sobrecarga cardiovascular.
✅ Melhora no perfil metabólico, com perda de peso e aumento da utilização de cetonas.
🔎 Implicações clínicas: A dapagliflozina deve ser considerada como opção terapêutica precoce para pacientes com T2D e risco elevado de doença renal, podendo ser utilizada isoladamente ou em combinação com outras terapias para otimização do tratamento.
🚀 Perspectivas futuras: Estudos de longo prazo são necessários para avaliar os efeitos da dapagliflozina na prevenção da progressão para DRC terminal, bem como para explorar possíveis benefícios adicionais em pacientes com diferentes estágios da disfunção renal.
📢 Fique atento às novas descobertas na nefrologia e no manejo do diabetes!
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